Voltando a refletir sobre entraves e problemas da democracia brasileira
Desde a posse de Lula, praticamente parei o compartilhamento de reflexões sobre questões sociais ou políticas nas minhas redes sociais. Em 2022, movida pela convicção de que a reeleição de Bolsonaro seria um fim de linha para a maioria das lutas pelas quais me engajei na vida, escrevi um texto por dia. O compromisso foi trazer informação confiável e em linguagem acessível sobre questões que, a meu ver, impactavam a escolha do eleitor.
Ancorada no interesse de ruptura com a chamada “polarização” entre esquerda e direita, a reflexão se deu por tópicos reconhecidamente importantes para nossos posicionamentos em relação a dilemas políticos, sociais e econômicos. Reforçando a ruptura quanto à polarização, a abordagem foi, na medida do possível, transversal e apartidária em relação aos candidatos que estavam pontuando nas pesquisas eleitorais.
Não tenho ideia se auxiliei a evitar votos no Bolsonaro. Hoje, essa questão me é irrelevante. O meu objetivo era traduzir racionalmente um pavor que a ideia de reeleição daquele presidente me causava. Ao aplicar um método sistemático de pesquisa e avaliação, aprendi muito. Vejo que foi um caminho de reflexão que me trouxesse mais consciência sobre questões que me desafiavam na vida cotidiana.
Com a vitória, ainda que por um triz, da frente democrática na eleição de 2022, o objetivo tinha sido alcançado. A partir de então, dei um passo atrás para analisar o cenário e me indagar se e como poderia dar continuidade ao processo reflexivo que havia criado. Durante cerca de 20 meses, vasculhei minha forma de pensar, de agir, de me relacionar, de existir socialmente e de ser. Os principais instrumentos foram Yoga, o silêncio e a auto-observação.
Durante esse tempo, algumas perguntas permaneceram presentes:
1) Como continuar com atividades voltadas a contribuir com transformações sociais aderentes ao que acredito, sem trazer para mim mesma grandes desgastes, tais como tensão, angústia e sensação de impotência frente à estrutura social que é muito maior do que eu?
2) Como dar continuidade às análises que fazia em 2022, de forma responsável e útil, tendo consciência das lacunas de conhecimento que percebo em mim mesma em muitas áreas, especialmente sobre sociedade civil e sobre política?
3) Por onde recomeçar? Como escolher temas, métodos e produzir conteúdos? Preciso ter um plano estruturado do que vou fazer?
Em relação à primeira pergunta, o Yoga, que pratico desde os 15 anos, me auxiliou bastante. Hoje, tenho mais distanciamento e compreendo com mais profundidade a força que o desapego tem para nos proteger das tensões naturais das coisas do mundo social. Farei a minha parte, trazendo para as minhas redes sociais percepções que os trabalhos que venho desenvolvendo com sobre sociedade civil e ações coletivas me ensinaram sobre impactos para mudança social. A resposta será dada todos os dias, por meio da disciplina com a atenção plena e desapego de resultados, com a lembrança permanente que mudanças sociais dependem de fatores estruturantes e múltiplos e de engajamento de pessoas que vislumbram mudanças.
Sobre as lacunas de conhecimento, uma fábula me auxiliou a melhorar meu entendimento sobre o que fazer com a falta: um ladrão ouviu dizer que em um mosteiro estava escondido um grande tesouro. Ele resolveu roubar o tesouro e se ofereceu ao abade como auxiliar de limpeza para o local. Ele permaneceu por décadas fazendo todas as tarefas, de forma impecável, avançando em posições de importância no mosteiro. Continuava procurando sinal/informação do tesouro que queria roubar, pois esse continuava a ser o seu objetivo maior. Décadas depois, no leito de morte, ele compreendeu a natureza do tesouro. Resumo da ópera: a retidão das nossas ações, mesmo diante de objetivos tortos e lacunas em nossas percepções e saberes, permite-nos caminhar, contribuir e, especialmente, aprender.
Quanto ao plano, ainda que de forma mais abrangente, já existe desde 2014. Trata-se de contribuir para possíveis mudanças sociais no Brasil, com vistas a nos tornarmos uma sociedade mais inclusiva, ética, coesa e sustentável.
Então, a caminho e no caminho. E o que vamos fazer?
1. Estabelecer a interface das minhas redes sociais com as atividades de cidadania ativa que tenho desenvolvido na Região Metropolitana de BH, especialmente junto ao Observatório Social de Belo Horizonte, Observatório Social de Brumadinho e Portal Diálogos. Essa interface poderá auxiliar na divulgação de conteúdos sobre políticas públicas, orçamento público e participação e controle social.
2. Publicar artigos e pequenas “pílulas” de conteúdos sobre as possibilidades de enfrentamento coletivo do problema de corrupção sistêmica no Brasil, enquanto estratégia de defesa da nossa democracia.
3. Publicar pequenos textos sobre ocorrências atuais na sociedade brasileira, à luz da reflexão estruturante sobre o problema da corrupção sistêmica
4. Divulgar cursos para qualificação e aperfeiçoamento da participação e controle social em democracias, por meio de vídeos em canal do Youtube.