O que estamos fazendo enquanto sociedade?

30/6

 Faltam 94 dias para 02/10. Os dados que compartilhei ontem me trazem uma pergunta muito que eu ainda não sei responder. O que estamos fazendo enquanto sociedade?

 Eu sempre fui muito otimista em relação ao Brasil, afinal lutei pela redemocratização e acreditava muito na evolução da democracia, como decorrência natural. A despeito de estagnação do início dos anos 90, honrei minha crença inicial, até que comecei a me dar conta de que a realidade se esconde atrás das nossas ideias sobre ela. Isso me preocupa porque hoje sei que as democracias morrem e que países explodem, socialmente falando.  

 E não adianta falar que um dia vamos dar um jeito nesses problemas crônicos do Brasil. Penso que devemos evitar a chamada positividade tóxica, que é a invenção contemporânea de sempre focar as coisas boas, ver o lado positivo de tudo. Ora, se quisermos viver adequadamente em nossas vidas e em sociedade devemos olhar e enfrentar concretamente os problemas.

 Nesse sentido, me permitam dividir com vocês um trecho do livro da Hannah Arendt, a Condição Humana. Eu estou com este livro há cerca de 10 anos e nunca consegui terminar. Dessa vez, talvez tenha chegado a hora. E ontem eu li um trecho que foi como se eu tivesse tomado um jato de água fria no rosto, me acordando mesmo...

 “Este livro não oferece uma resposta a essas preocupações e perplexidades (ela estava no final dos anos 50, pós-guerra, bombas atômicas etc.). Tais respostas são dadas diariamente, e elas concernem à política prática e estão sujeitas ao acordo de muitos; elas jamais poderiam se basear em considerações teóricas ou na opinião de uma só pessoa, como se estivéssemos lidando com problemas para os quais só existe uma solução possível. O que proponho nas páginas que se seguem é uma reconsideração da condição humana do ponto de vista privilegiado de nossas mais novas experiências e nossos temores mais recentes. É óbvio que isso é assunto do pensamento e a ausência de pensamento – a despreocupação negligente, a confusão desesperada ou a repetição complacente de verdades que se tornaram triviais e vazias – parece-me ser uma das mais notáveis características do nosso tempo. O que proponho é muito simples: trata-se de pensar o que estamos fazendo.""

 Hannah se propõe a criar as bases para compreendermos a natureza da sociedade da era moderna, no intuito de ser capaz de enxergar a natureza da sociedade que surgiu com “as primeiras bombas atômicas”, ao que ela chama de “era nova e desconhecida”.

 E cerca de 70 anos depois, estamos aqui precisando compreender o que aconteceu com a sociedade brasileira. Por que não avançamos na solução dos nossos mais profundos problemas estruturais? Por que, ao invés de enfrentar de frente esses problemas, criamos um contexto político que nos fez retroceder em todos os indicadores econômicos e sociais nesses últimos 6 anos? Vamos apenas citar a grande Hannah Arendt: trata-se de pensar o que estamos fazendo.

 

 

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