A desigualdade social vem de longe
29/6
Faltam 95 dias para 2/10. Ontem, no vídeo com a prof. Elisa ouvimos sobre os grandes problemas estruturais que temos no Brasil. Em especial, ela nos chama a atenção para o efeito desses problemas, tais como desigualdade, preconceito, corrupção política, intolerância, violência. Eles cortam na raiz a possibilidade de a sociedade desenvolver adequada coesão social. Eles nos impedem de confiar. Isso significa que não temos muitas condições de caminhar juntos para defendermos interesses que realmente afetam a maioria. E isso não é de agora. Os dados que compartilho abaixo vão evidenciar esse cenário.
O Índice de Gini, um dos mais usados para medir esse problema, nos indica que nunca saímos do intervalo 57-50. Só para termos uma noção do que isso significa em termos comparativos, estimativa da OCDE mostra que a Suécia, em 1850, estava com o Índice de Gini nesse intervalo. Sobre controle da corrupção, a nossa melhor marca foi em 2011, quando a avaliação foi 0,17 (Dinamarca, maior índice, estava em 2,4); logo após 2014, entramos em uma descendente, passamos a -0,50 em 2017 e, em 2020, ficamos em -0,34. Podemos dizer que estamos em um intervalo perverso de 0,17 a - 0,50 nos últimos 28 anos.
Diferentemente, a riqueza do país aumentou bastante, ainda que de 2015 a 2022 tenhamos declinado na produção e riqueza. A renda per capita (RP) em 1960 era 260 dólares, em 1986, no final da ditadura miliar estava em 1094 dólares, em 1995, no momento do plano real 5.090 dólares. Com a crise de final de 99, estava em 2.002, em 2.830 dólares. Na melhor fase da nossa economia, quando acreditávamos que íamos entrar no rol dos países desenvolvidos, entre 2011 a 2014, a RP estava entre 13.225 a 12.011,00, de 2015 a 2020, a RP caiu significativamente, até atingir 6.800 dólares em 2020, quase a metade da que tínhamos em 2011.
Nesse tempo de crescimento da renda, também vemos uma queda vertiginosa da pobreza no Brasil. Do início dos anos 80, final da ditadura militar, ao final dos anos 90, a pobreza (menos de 1,90 dólar/dia) variou, de forma não linear, no intervalo de 11,2 a 5,4%. De 2000 a 2014, caiu de forma impressionante e linear: passa de 5,2 a 0, 90%. A partir de 2015, a pobreza volta a subir, sendo que, em 2018, a taxa já estava em 1,6%, ampliação de mais de mais de 70% em relação a 2015.
O que fica evidenciado é que o aumento da riqueza e a diminuição da pobreza, especialmente de 2004 a 2015, não nos auxiliaram de fato a criar maior coesão social. Interessante verificar que os indicadores de participação social, liberdade de expressão e defesa da democracia variaram negativamente a partir de 2015, de forma que a nossa possibilidade de dialogar para resolver os nossos problemas crônicos está proporcionalmente menor. Portanto, é urgente pensarmos em novas referências para nos posicionarmos seja para escolher governantes, seja para acompanhar as escolhas que eles fazem ao assumirem os cargos.
Indicadores::https://govdata360.worldbank.org/countries/BRA?indicator=28753&viz=line_chart&years=2006,2020#h61220940