O Interesse Bem Compreendido

20/7/2022

Faltam 74 dias para 2/10. Hoje a reflexão é sobre a possibilidade de o interesse pelo bem comum ser força motriz para a prática social. Será que essa virtude existe de fato? Será que é uma narrativa moral do encantamento com a possibilidade do nosso mundo? O que essa discussão tem com as próximas eleições? Nenhuma dessas respostas é simples, como pode ser visto no vídeo a seguir:

 https://www.youtube.com/watch?v=Iz9bNSUq7OU

 Para dialogar com o vídeo, vou focar no interesse que move a prática social. E seguindo Pierre Bourdieu, vou considerar que, se a prática deslocada do interesse próprio é possível, ou seja, desinteressada de objetivos egoístas, ela vai se dar apenas em campos que premiam o desinteresse. É bom lembrar que tem apenas um campo em que o interesse pessoal está liberado, o mercado. Nos demais, é preciso uma mediação, e em outros, como religião e Estado, ele é proibido, vedado.

 Mas se Estado é sempre pensado como o local do universal, qual seria o interesse das pessoas que ingressam no campo estatal? Como que eles são recompensados? Ora, eles acessam ao metacapital do Estado e passam a estabelecer relações no campo de poder da sociedade em posição de influência. Esse metacapital deriva de um processo sócio-histórico do monopólio avocado pelos juristas para dizerem “o certo”, por meio de teorias legitimadoras para a centralização de capital simbólico do Estado, utilizando ideias universais como bem comum.   Essa visão internalizada funciona de forma pré-reflexiva, assegurando a crença coletiva na ordem dominante, vista como universal e voltada ao bem geral.

 No entanto, essa submissão não é gratuita. Ela depende do reconhecimento de que o Estado merece o poder que ele assume. Portanto, ele precisa constituir estruturas voltadas a minimizar o interesse próprio em suas fileiras, para formar agentes interessados nos prêmios que o setor lhe proporciona.  Atualmente muitos estudos indicam a baixa efetividade de incentivos positivos (prêmios) e negativos (repressão) para transformar, com grande sucesso, pessoas comuns, em agentes públicos interessados no bem comum.

Na linha do interesse bem compreendido de Tocqueville (você tem todo o direito de ter interesse próprio, desde que ele esteja contido no bem geral), Bourdieu afirma que o acesso adequado ao bem comum é alcançado quando ocorre a extensão da responsabilidade pública sob a responsabilidade privada na própria sociedade. E essa extensão vai se dar a partir da sociedade civil, ampliando a participação cidadã na vida pública. E é dessa consciência responsiva que teremos a possibilidade de agirmos nessa eleição com vistas a promover uma inflexão em nossa história. Ótima noite!

 

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