Mudança social e o gene egoísta

25/6

Faltam 99 dias para 2/10. Hoje a questão é como mudamos os comportamentos sociais. Já trouxemos esse desafio no tema da corrupção e, de novo, nos encontramos com ela na discussão sobre violência/segurança pública.

Tem um livro que li quando eu tinha pouco mais de 20, que me impressionou bastante, “O gene Egoísta” de Richard Dawkins, escrito em 1976. Resgato um trecho deste clássico, para nos desafiar a pensar em uma de suas premissas: “Uma estratégia evolutivamente estável (EEE) é definida como uma estratégia que, se adotada pela maioria dos membros de uma população, não poderá ser sobrepujada por uma estratégia alternativa... Outra maneira de expressá-la é dizer que a melhor estratégia para um indivíduo depende do que a maioria da população está fazendo... ...uma vez que a EEE é alcançada ela se manterá: a seleção punirá os desvios (DAWKINS, 2001, p 94-95)”

Isso me sempre me auxiliou a entender o comportamento de massa. Muitos anos depois eu conheci uma teoria que me pareceu interessante para me ajudar a pensar a mudança social, a teoria dos jogos evolucionários. Nessa teoria, estratégias são consideradas como características herdadas socialmente e que, de certa forma, controlam o nosso comportamento. Portanto, por essa teoria é possível avaliar se, como e quando uma eleição de novas estratégias acontece em uma sociedade. Em outras palavras, se uma estratégia dominante, por algum processo social, se torna dominada, ela tenderá a desaparecer e aí pode ocorrer a mudança. Nesse caminho, é muito importante disputarmos as narrativas sobre o que vale e o que não vale socialmente.

Um exemplo dessa narrativa aconteceu hoje na Noruega. Um cidadão norueguês, descendente de iranianos, foi preso suspeito de ser o responsável pelo que está sendo investigado como crime de ódio contra a comunidade LGBT, ocorrido ontem em Oslo, deixando dois mortos e mais de 20 feridos. A fala do rei Harald reforça a estratégia eleita na Noruega como a mais adequada: “Devemos permanecer unidos e defender nossos valores: liberdade, diversidade e respeito ao próximo”. E, também, a do primeiro-ministro: “...se este é um exemplo de terror islâmico, muitos muçulmanos se sentirão vulneráveis hoje e no tempo à nossa frente. Também sei que muitos muçulmanos estão assustados e angustiados. Portanto, é nossa responsabilidade comum deixar claro que ninguém é responsável por este ataque além da pessoa ou pessoas diretamente por trás dele”. Evidentemente existem extremistas na Noruega, mas essas falas criam uma capacidade de contenção dessas posições.

Então, voltando ao nosso tema, penso para que possamos mudar a condição de violência da sociedade brasileira, devemos e podemos aprender a defender estratégias mais equilibradas e cuidar de eleger pessoas que se comprometam com elas.

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