Instituições e limites para provocar mudanças

13/7

 Faltam 81 dias para 2/10. Na identificação de conexões de grandes problemas que o Brasil atravessa, o movimento da reflexão de ontem foi do global para o individual. Mas poderia ter sido oposto, dado que as conexões emergem nas relações e não decorrem exatamente de uma dada ordem. Essa abordagem retira de centro a velha premissa de causa e efeito como regra geral no universo social e dá lugar à relação de proximidade e distância entre eventos.

Na primeira perspectiva, de causa e efeito, a expectativa de mudança social se coloca em alteração de leis/normas e na premissa de que a estrutura social objetiva (a regra) originará novos comportamentos e valores nos indivíduos (estrutura social subjetiva). Na segunda perspectiva, a de proximidade e distância, leis, comportamentos e valores são constituídos por forças de influência e dependência complexas, decorrentes de relações permanentes de disputas de interesses diversos (pulsão). A realidade por nós vivenciada como concreta pode ser percebido como a resultante dessas forças.

Para efeito de exemplo prático, tomemos o caso da tentativa de enfrentamento da corrupção feita pela Lava-Jato. Trata-se de um problema institucional na interface entre Estado e mercado, que é em geral abordado na perspectiva linear de causa e efeito. Vamos encontrar e prender os corruptos e aí ficará tudo bem, né? Negativo. No caso da Lava-Jato, a fragilidade das instituições, a insegurança jurídica, a falta de comprometimento com valores, ética, a violência e, até mesmo, a crise do Estado democrático de Direito, tudo isso contribuiu para que, ao invés de enfrentar a corrupção, a própria Operação se corrompesse.  A resultante do jogo de interesses, com influências e dependências complexas, trouxe a agudização de todos os nossos problemas. Conforme já foi mostrado em postagens anteriores todos os indicadores econômicos e sociais do Brasil pioraram a partir de 2014, exceto a capacidade de o mercado influir nas alterações normativas.

 Podemos também pensar em políticas públicas que são bem avaliadas, como o Bolsa Família ou as cotas nas universidades. Temos quase duas décadas das políticas compensatórias que começaram de forma mais intensiva em 2003, no início do Governo Lula. Importantes indicadores sociais tivera variação positiva, tais como pobreza e desigualdade social. No entanto, nenhuma alteração aconteceu nos problemas institucionais ou nos valores da nossa população. E o que aconteceu? Uma parcela grande da população, especialmente da classe média, não deu suporte às cotas, por achar injusto com seus filhos; uma parcela menor reclamou do bolsa família por “diminuir o número de pessoas dispostas a trabalhar” e outra parcela se incomodou com o fato de que os “aeroportos” estavam com cara de “rodoviárias”. Não foi surpresa, que parte significativa dessa parcela da população apoiou fortemente a Lava-Jato, mesmo depois de ela ter se corrompido, utilizando o véu falacioso do discurso da ética.

 Pensar na abordagem relacional implicará desenvolvermos a capacidade de reconhecer conexões. Amanhã vamos pensar no jogo do campo de poder. A expectativa é que isso nos torne menos susceptíveis de sermos engolidos por discursos simplificadores da realidade e possamos influir na construção da nossa realidade social com mais força.

  

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