Crises, instituições e mudanças
12/7
Faltam 82 dias para 02/10. Para reconhecer problemas, precisamos de coragem. Do contrário, ficamos entre a resistência e a esperança de milagres. Uma das fantasias atuais mais perigosas por aqui penso ser a que nos leva, enquanto sociedade, a posições tão antagônicas e conflitantes nas próximas eleições, como se fossem problemas de uma pessoa e não de sociedade. Ao romper com a falsa expectativa de que a eleição de A ou B irá resolver os graves problemas da sociedade brasileira, penso que temos chance de caminhar em racionalidade identificar como os candidatos se comportam em relação a esses problemas e fazer as nossas escolhas conscientemente.
Como problemas mais transversais, creio que podemos identificar quatro níveis de problemas:
1. Global – crise ambiental planetária, crise do modelo do Estado democrático e crise na economia global
2. Institucional – fragilidade das instituições, corrupção e insegurança jurídica
3. Social – desemprego, desigualdade, pobreza e violência
4. Individual – crise de valores, de alteridade e de pertencimento
Como nós existimos no mundo e com o mundo, esses problemas estão conectados. Todas as crises globais ao encontrarem um ambiente institucional frágil são potencializadas em todas as áreas da conjuntura nacional e os efeitos espraiam pela sociedade atingindo cada um de nós. A fragilidade das instituições, os conluios entre espaço público e privado, que atinge o judiciário e provoca insuficiência na segurança jurídica, devido ao comprometimento da previsibilidade e da coerência na aplicação das leis.
Com instituições frágeis é impossível caminhar com um projeto de aperfeiçoamento da democracia brasileira. As políticas públicas serão planejadas por uma burocracia ensimesmada, de acordo com a vontade política de governantes com muito espaço para posturas e práticas particularistas, complicando ainda mais os desafios sociais especialmente das classes menos favorecidas e dos excluídos. Em um contexto tão agressivo, a humanidade em cada um de nós encontra dificuldade para criar espaço e começamos a ver cada vez mais atrocidades, o que alimenta o isolamento social, a dificuldade de reconhecimento de ser parte de um povo ou de uma nação e de compreender as diferenças, as interações e as interdependências em um grupo social.
A agudização desses problemas pode nos levar a um perigoso abismo na já elevada fragmentação social que vivemos, com reflexo para todas as classes sociais, atingindo também o mercado, a política e a burocracia pública. Ninguém está a salvo. Podemos fazer um paralelo com o alerta que o próprio Banco Mundial fez ao identificar riscos de fragmentação geoeconômica nas relações internacionais. Na nota, é enfático em dizer que a saída deve ser pelo reforço de cooperação. Aqui não é diferente.
https://www.infomoney.com.br/.../fmi-alerta-contra.../
Como os problemas são conexos, possíveis soluções também devem ser. Mas esse debate fica para amanhã.