Como mudar a nossa sociedade?
11/7
Faltam 83 dias para 2/10. Hoje minha reflexão é sobre as nossas possibilidades de mudança na sociedade brasileira para construirmos um país melhor após as eleições de deste ano. Penso que o mais importante não é quem governa o país, mas como o Estado e a sociedade estruturam decisões públicas que limitam e controlam as decisões e os comportamentos dos governantes.
Todas as democracias, além da Constituição, desenvolvem um pacto social dinâmico, mas muito resistente a mudanças estruturais profundas, que torna possível um dado equilíbrio da ordem social. Esse equilíbrio acomoda os diversos interesses que podemos resumir em termos de segmentos em: elite econômica, elite política, elite burocrática, pequenos empresários, profissionais liberais, massa trabalhadora e excluídos. Essa acomodação define o nível de bem comum que cada sociedade consegue entregar. Envolve fatores tais como distribuição de poder, influência política, distribuição de riqueza, influência do mercado nas decisões de governo, igualdade social, nível de corrupção, acesso à justiça, qualidade dos serviços públicos, legitimidade das decisões do setor público, dentre outros.
Podemos perceber onde estamos nesse pacto, pelos resultados que temos no Brasil. Mas onde nós podemos chegar vai passar necessariamente pela disputa na arena pública para que candidatos a governantes firmem compromissos com uma agenda que consideramos capaz de levar a uma transformação positiva. Além disso, teremos também que nos dar ao trabalho de pressionar as instituições públicas para o desenvolvimento da capacidade de estado para serem capazes de imprimir duração a esses compromissos, tornando-os sempre que necessário em políticas de estado e não de governo.
Podemos dizer que tivemos uma orquestração nessa linha no Plano Real, para vencermos a inflação. A despeito do sucesso das políticas sociais nos governos do PT, não podemos dizer que houve consenso de sociedade para transformar as políticas de inclusão social e de diminuição das desigualdades sociais em políticas de Estado. As mudanças ocorridas com essas políticas mostram que elas continuam como políticas de governo. Nessa crise aguda atual até mesmo o controle inflacionário, conquista de quase 30 anos parece estar pelo menos com seus alicerces um pouco abalados.
Então, concluo que nesses dois aspectos, avançamos sem transformar a sociedade. Para transformar, penso que precisamos entender por que precisamos mudar e depois compreender como faremos um movimento amplo para que, ao mesmo tempo e em todas as esferas, sejam firmados compromissos de enfrentamento dos problemas mais agudos da nossa democracia que estão conectados entre si.
Amanhã vamos fazer a conexão entre os problemas mais sérios que temos e que estão nos colocando muito próximos do abismo social, econômico e político. Penso que a visão desse risco pode ser o gatilho que precisamos para agirmos juntos.