Campo de Poder e Corrupção

14/7

 Faltam 80 dias para 2/10. Um sociólogo francês, Pierre Bourdieu, dizia que se queremos enxergar a direção que o mundo tomará em 30 anos, precisamos entrevistar as 300 pessoas com maior poder econômico, em termos globais, e aí vamos ter um mapa razoável do futuro. E para ter uma possibilidade de análise prospectiva das nossas possibilidades como sociedade, também é assim?

Um pouquinho diferente, pois não estamos apenas analisando tendências futuras a partir de pessoas que detêm uma lupa poderosa para compreender as perspectivas das tomadas de decisão no mundo. Mas certamente passa por compreender as relações estabelecidas no campo do poder da sociedade brasileira. Mas o que é isso, campo de poder? É simples, vamos pensar na casa da nossa família? Existe relações de poder? Sim, em geral numa família padrão, o pai e a mãe estão nas posições que mais afetam as influências e dependências na família. Projetando essa analogia para o bairro, para a cidade e para o país podemos localizar, em cada âmbito, um campo de poder distinto.

 No caso do país por exemplo, de forma simplificada, podemos dizer que as posições mais influentes do mercado, da política, da burocracia pública e da sociedade civil formam o campo de poder da sociedade brasileira. Podemos dizer que o campo de poder tem influência sobre tudo que acontece no país, para o bem e para o mal. Mesmo que existam disputas entre os integrantes desse campo, normalmente não é daí que decorre grandes mudanças, rupturas importantes. 

 Raramente o campo de poder entra em colapso tal como aconteceu na Itália nos anos 2000, com a Operação Mãos Limpas, quanto no Brasil a partir de 2014, com a Operação Lava-Jato. Mas tanto na Itália, quanto aqui, depois de alguns anos, a tendência é voltar ao “reme-reme” que caracteriza cada país. Por quê? Simples. As posições de poder do mercado são estáveis em uma sociedade. As posições com maior poder econômico não mudam muito de mãos no campo de poder; e o mesmo acontece na parcela mais importante da burocracia que é no judiciário. Já na política, ainda que haja certa duração e permanência na ocupação de posições de poder, essas apresentam maior dependência, em especial parte da sociedade civil.

 E as posições de maior poder na sociedade civil, também existem? Quem se lembra de que no anterior mandam o prefeito, o médico, o juiz e padre? Já nessa descrição de poder local, aparecem a ciência (médico) e a igreja.  Temos aí uma sinalização de que sociedade civil é por natureza fragmentada. Portanto para formar a voz da sociedade civil, interagem e disputam diferentes interesses: imprensa, pequenos empresários, artistas, estudantes, profissionais liberais, trabalhadores, dentre outros.

 O que isso tem a ver com as eleições e com os nossos problemas? Tudo. Compreender a dinâmica das disputas e dos interesses dos atuais ocupantes das posições de maior influência no campo de poder e de seus concorrentes, bem assim, conhecer as suas dependências podem nos dar informações valiosas sobre o nosso futuro. E isso é importante para que possamos ter decisões mais racionais nas próximas eleições. Afinal, bom lembrarmos que eleição é diferente de um jogo de futebol, em que conta apenas a nossa torcida.  Amanhã, continuaremos nossa reflexão sobre o campo de poder, trazendo aos poucos conexões e relações relevantes.

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