Fiocruz e UFRJ indicam metais pesados em Brumadinho

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 Faltam 87 dias para 2/10. Continuemos a falar do nível de (des) confiança interpessoal no Brasil e da urgência de agirmos juntos para mudar as práticas/posturas que alimentam nossa baixíssima coesão social, nosso sentimento de sermos juntos como povo.

Eu moro em Brumadinho, em um refúgio no meio de árvores e montanha, a uns 10 km do local onde rompeu a barragem da Vale em Brumadinho e matou mais de 270 pessoas, mudando para sempre as nossas vidas. Há cerca de 10 horas, hoje, houve a divulgação do resultado da primeira fase de um estudo da Fiocruz e da UFRJ, que avalia as condições de vida, saúde e trabalho da população.

 Os resultados mostram níveis de metais no organismo das pessoas bem acima do tolerável:
a) adultos, 33,7% têm alta de arsênio e 37% de manganês.
b) adolescentes, 52,3% têm níveis altos de manganês no sangue e 12,2% elevado nível de chumbo e 28,9% estão com arsênio na urina, acima do tolerável;
c) em crianças, em 172 amostras válidas, todas apresentaram menos um dos metais pesados; 50,6% das crianças têm pelo menos 1 metal pesado acima do tolerável.

O manganês está relacionado ao mal de Parkinson e Alzheimer; chumbo provoca anorexia e distúrbios mentais; arsênio pode causar câncer e doenças de pele. O estudo já identificou também que o nível de doenças mentais e crônicas encontradas no grupo estudo está bem acima da média nacional.

(https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/07/fiocruz-detecta-alta-presenca-de-metais-doencas-respiratorias-e-mentais-em-moradores-de-brumadinho.shtml)

Os números me deixaram assustada. Eu moro aqui e sei que a realidade está difícil, mas é muito mais do que que estava percebendo. É aterrador! Procurei por declarações oficiais do Ministério Público, do governador de MG ou do prefeito da cidade (..) nada encontrei.

 Mas, na própria Folha há declarações da Vale, afirmando:
a) não há registro nas comunidades locais de casos de intoxicação por metais pesados por conta do rompimento da barragem;
b) o rejeito de minério de ferro é classificado como não tóxico e consequentemente não perigoso, conforme NBR [norma brasileira] 10.004, da ABNT;
c) os níveis de material particulado em suspensão nas comunidades impactadas de Brumadinho apresentam níveis adequados à saúde da população.

Assombroso né? A população não confia na Vale, claro. Mas o incrível é o espaço institucional para que a empresa vir a público fazer essas declarações. E sabem por que ela assim o faz? Porque ainda não cassamos o espaço de governantes e empresas para mentirem em defesa de seus interesses, mesmo contra evidências e fatos. Quem pode cassar esse direito da mentira? Nós, a população, claro! Mas temos que nos mexer.

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