Desconhecimento da liturgia do cargo
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Faltam 86 dias para 2/10. Nas duas últimas postagens, ficamos nos exemplos de declarações públicas que alimentam a corrosão da confiança interpessoal no Brasil; um caso no setor público federal; o outro envolvendo uma das maiores empresas do mundo, a Vale. Declarações que buscam colocar um véu sobre a realidade, ao invés de demonstrar disposição e seriedade institucional para enfrentamento do problema, ainda que protegendo o interesse de governantes e de empresas. Isso é perfeitamente possível. Nem pessoas e nem instituições devem se desproteger nas relações que estabelecem.
Para isso, basta ver um exemplo. Olhemos as declarações diretas e indiretas do Presidente do País. Ao ser indagado sobre o caso de assédio na Caixa há 4 dias, ele respondeu: “Já foi afastado. Ou melhor, ele pediu afastamento”. E na posse da nova presidente da Caixa, ele afirma: “não começa uma nova era, a Caixa continua”. Nenhuma declaração institucional que sinalize para a população que, em uma instituição federal, a regra é o respeito aos valores que a sociedade brasileira já declara em relação às mulheres e às normas que restringem autoridades e servidores no serviço público. Ao contrário, alimenta a falta de confiança no setor público e favorece a continuidade da prepotência, da soberba e do desrespeito de alguns.
Uma forma relativamente positiva e institucional de responder foi a da nova Presidente da Caixa: “Por ora, o que tinha que ser feito ligado ao episódio já foi feito. Se aparecerem outros indícios, eventos ou pessoas será conduzido com a mesma postura. Que essa é a postura que vem sendo conduzida. Mas daqui para frente, a partir de amanhã, a gente está focado em criar tudo que a gente precisa para criar um ambiente independente, rigoroso e seguro de apuração". Além disso, ela afirmou: "hoje a gente começa a escrever junto um novo capítulo nesses 161 anos de história" do banco. Também apontou para "ações" que precisam ser realizadas para combater "barreiras culturais, físicas e muitas outras" que são impostas às mulheres na sociedade brasileira
Qual a lição que democracias mais evoluídas já aprenderam e que esse caso da Caixa nos sinaliza como brasileiros? Qual o aprendizado que levamos para a nosso assunto das eleições? Simples. Nosso dever de cobrar dos candidatos que se apresentarem em até 15/8 que alimentem a confiança entre nós no País, com posturas, declarações e práticas que cumpram a liturgia do cargo que consideram merecer. Essa liturgia está indicada em convenções internacionais, na nossa constituição, nas normas infraconstitucionais, nos valores e na ética que o setor público declara que vai pautar as suas decisões.