Os prejuízos da falta de confiança em uma sociedade

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Faltam 89 dias para 2/10. Hoje quero pesquisar sobre a importância da variável “confiança” para estabelecemos critérios na próxima eleição.  Será que essa variável pode ser considerada o ponto de partida para sermos capazes de caminhar com projetos coletivos em nossa sociedade?

Já foi postado aqui que, em Janeiro de 2022, o Banco Interamericano (BID) publicou um trabalho, afirmando que confiança é elemento chave para a coesão social e o desenvolvimento socioeconômico. Hoje vamos ver o que o Banco fala de consequências e sobre o que deve ser feito. Segundo eles, a falta de confiança fragiliza as democracias e provoca menor receita tributária, ineficiência no mercado financeiro, menor disposição para inovação e para riscos, informalidade no trabalho, regulações mais onerosas, menor disposição de participação em projetos coletivos. A proposta do Banco para criar mais confiança inclui reforma do judiciário, ampliação da transparência e campanhas de cidadania.

https://www.youtube.com/watch?v=Ccs4G3J1jS4

 A primeira coisa que dá para dizer ao BID é que não adianta o governo cumprir o check-list de boas práticas, para que criemos mais confiança. Assim como não deram certo as reformas de estruturas de governo feitas nos anos 90, inclusive no Brasil, seguindo o receituário do BID e do Banco Mundial. Ao contrário, seguirmos esse receituário nos fará gastar mais recursos, sem andar 1 milímetro em confiança, porque tudo isso pode ser feito com a mesma deslealdade que nos caracteriza e nos faz andar de lado, na maior parte das nossas iniciativas. Meu ponto é que temos que buscar outras soluções.

 Uma pergunta necessária é se as consequências desse problema coletivo afetam mesmo os interesses da maioria de nós brasileiros, inclusive de parte significativa dos interesses das elites do mercado, do estado e da sociedade civil, incluindo imprensa, universidades, igrejas, ONGs etc. Se a resposta for sim, há uma chance de provocar mudança social. Se for não, podemos escolher o modo individual mais interessante que pudermos de continuarmos a nossa vida, deixando para as próximas gerações o legado da fragmentação e do esfacelamento social.

 Vou defender que sim.  Ainda que os brasileiros que estejam na faixa de 1% dos mais ricos possam ser excluídos das consequências negativas desse nível tão diminuto de confiança no país, ainda ficamos com um número impressionante de brasileiros que são diretamente afetados. Somos mais de 200 milhões de brasileiros vivendo no país e estabelecendo nossos projetos pessoais e profissionais por aqui. Além disso, dentre esses 200 milhões, pelo menos cerca de 20 milhões muitos transitam na elite econômica dos 10% mais ricos e/ou integram as elites políticas, burocráticas ou da sociedade civil.

Como podemos ser mais confiáveis e criar estruturas que também o sejam? Qual a ruptura que precisa ser feita? Segundo um dos maiores teóricos de democracia, Tocqueville, essa ruptura acontece quando as pessoas conseguem de fato se juntar para resolver problemas que elas têm em comum. Assim, dependemos do interesse e do comprometimento das pessoas. Não há como criar confiança; ela emerge no processo de fortalecimento desse pertencimento coletivo.

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