Democracia brasileira: vamos avançar?
A frente democrática venceu! Mas vale a pena colocarmos uma lupa no resultado que alcançamos em nosso colégio eleitoral de 156.454.011 de votantes brasileiros, para pensarmos se e como vamos avançar.
Total de votos -124.252.796 (79,4%)
Abstenções - 32.200.558 (20,6%)
Total de votos válidos - 118.552.353 – 95,4% em relação ao total de votos e 75,7% em relação ao colégio eleitoral.
Nulos (3.930.765) e brancos (1.769.678) = 5.700.443 - 4,6% em relação ao total de votos.
Lula – 60.345.999 (50,9% dos votos válidos e 38,5% em relação ao colégio eleitoral)
Bolsonaro - 58.206.354 - (49,1% dos votos válidos e 37,2% em relação ao colégio eleitoral)
Conclusão é que o país está dividido. E existe a divisão regional que tem muita importância e que será objeto de uma análise futura. Hoje, vamos pensar nesses grandes números. Ainda que, para muitos, esteja bem claro o fato de a disputa ter sido entre um projeto autoritário de governo e uma possibilidade de continuarmos a lutar para que a democracia avance no Brasil, não é possível dizer que as pessoas que votaram no Bolsonaro, 37% dos votantes brasileiros, apoiam projetos autoritários. Acho que isso simplifica e diminui a nossa chance de enfrentar essa cisão.
Não temos pesquisas científicas atuais que nos tragam esses números. Mas devemos nos lembrar que, 10 dias antes do 2º turno, pesquisa Datafolha indicou que 79% dos brasileiros apoiavam a democracia, 5% a ditadura, em certas circunstâncias, e 11% consideraram indiferente. Isso significa que 15% dos brasileiros prontos para apoiar projetos autoritários no Brasil. Claro que as pessoas que estão na balburdia nesse momento, questionando e deslegitimando o resultado das eleições estariam nesses 15%. Então, na falta de estudos científicos, vamos ficar com a linda expectativa de que temos quase 80% de brasileiros que defendem a democracia como organização política.
Penso que nesse grande grupo, que pode representar cerca de 123 milhões de votantes, podemos separar algumas categorias de pessoas que merecem ser ouvidas e que precisam de respostas concretas do campo político:
a) Os que defendem a democracia de qualquer forma;
b) Os que defendem a democracia, mas temem a esquerda – por conta de temas como economia, aborto, direitos humanos, meio ambiente.
c) Os que defendem a democracia, mas que relacionam o PT e o Lula à corrupção – efeito da Lava-Jato.
d) Os que são contra o populismo seja de esquerda, seja de direita – pessoas que se incomodam com salvadores da pátria
e) Os que estão insatisfeitos com o que recebem da nossa democracia e que estão susceptíveis a serem manipulados pelas promessas da extrema-direita - desempregados ou pessoas que se consideram injustiçados, que têm menos do que acham que merecem e que culpam o sistema.
Nos próximos dias, com duas reflexões semanais, enfrentarei questões pensadas a partir da preocupação desses grupos. Vamos dialogar?