Corrupção e Particularismo
Faltam 121 dias para 02/10. De início, quero dizer que recebi, hoje, alertas de mais de 150 tentativas de criação de perfis falsos da minha conta. Isso nunca me aconteceu. Não sei se a forma como estou abordando questões importantes para a nossa sociedade está por trás dessas tentativas. Então sinto que preciso reforçar o caráter apartidário das minhas postagens. Acho que nós todos temos sim que nos dar ao trabalho de buscar formas de auxiliar a construir uma mudança nas regras do jogo na sociedade brasileira. A minha será essa, escrevendo e colocando ideias para reflexão coletiva.
A grande pergunta de hoje é a mesma que as ciências sociais vem fazendo nestes últimos anos: como romper com o estágio de democracia personalista em direção a uma universalista? Fico tranquila hoje de pensar que essa é a nossa pergunta, porque penso que a direção de governo autoritário, a despeito de um percentual considerável de brasileiros ainda apoiar a ideia de retorno de ditadura militar, encontra um pacto social capaz de promover a necessária resistência a esse retrocesso.
Penso que o primeiro ponto para pensarmos é sobre o conceito a partir do qual pensamos corrupção. Pensamos sempre nos dinheiros escondidos e nas propinas pagas a detentores de cargos públicos. Isso é corrupção? Sim, é a mais óbvia. Como li uma vez em um depoimento de uma gente da Polícia Federal, na Operação Sanguessugas, parece pescaria em um mar cheio de peixes, basta jogar o anzol. E se tira um, logo depois vem outro para substituir o posto. E antes que fiquemos histéricos, é claro que temos que fiscalizar e investigar todas as formas de crime, mas essa redução do sentido de corrupção a crimes é coisa muito recente na nossa história. E essa abordagem do foco no agente corrupto só dá certo, onde a corrupção é marginal, tal como nos países universalistas.
Mas se passarmos a considerar o domínio e o uso das estruturas públicas para promover o deslocamento de renda para determinadas grupos de atores que estão no campo de poder da sociedade esse conceito se alarga. Irá abranger uma discussão sobre o bem comum e sobre o pacto social necessário para o alcance seja possível.
Quando esse pacto acontece? Parece que somente em momentos que o contexto é tão problemático que parte significativa da elite também fica interessada na mudança. Amanhã, vamos falar do caso da Suécia, que é um exemplo de uma tentativa de mudança que deu certo.