Corrupção e estágio da democracia

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Faltam 122 dias para 02/10. De 2017 a 2018 tive a oportunidade de fazer um pós-doutorado estudando o tema da corrupção. Alina Mungiu-Pippidi, uma cientista política romena, sediada em Berlin, vem pesquisando corrupção como um problema de sociedade, como um problema de ação coletiva. O grupo de pesquisa que ela coordena vem trabalhando com dados de quase todos os países do mundo.  

 Ela afirma que controle razoavelmente adequado de corrupção anda junto com desenvolvimento humano e igualdade. São poucos países no mundo (35 em 200) que atingiram o estágio de universalistas – democracias que tem controle adequado da corrupção, alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e adequado nível de Igualdade Social. Nesse estágio as decisões são pautadas pelo que ela chama de universalismo ético.

 Em 109 outras nações classificadas como democracias, pessoas votam, mas predomina a lógica do particularismo. O interesse privado se sobrepõe ao interesse coletivo e a corrupção pode ser considerada sistêmica. Nesses países, apenas 16,5% apresentam IDH muito elevado e apenas 25,8% têm desigualdade social aceitável. O Brasil, que se encontra entre esse conjunto de países, tem IDH elevado, mas tem desigualdade social extrema, uma das maiores do mundo.

 A situação dos países autoritários, no total de 45, é ainda pior. Nesses, apenas 8,9% apresentam IDH muito elevado. Para 44,4% desses países, a ONU sequer conseguiu identificar o índice de desigualdade pela falta de dados. Dentre os 25 que estão identificados, 68% revelam elevada desigualdade e elevado nível de corrupção sistêmica.

 Nós estamos no rol dos países particularistas. Para mim, o desafio de agora é entendermos mais sobre as regras do jogo que caracterizam os países personalistas para lutarmos para uma evolução. Não haverá milagres e não haverá salvador da pátria. Ou caminhamos juntos ou vamos cair em armadilhas de oportunistas.

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