Confiança: a experiência na Noruega

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Faltam 123 dias para 02/10. Ontem, tocamos em algo muito importante. Sinto que é fácil dizermos que não confiamos nos partidos, nas instituições etc. Mas, e quando olhamos e temos que admitir que índices apontam que somos uma sociedade em que nós mesmos não confiamos uns nos outros? Algo se rompe quando a gente realmente compreende. É sobre essa percepção que quero falar hoje. Como dirigi quase 700 km (BH a Itumbiara), estou com pouco tempo e pouca energia para fazer pesquisas.  Aproveito para trazer um depoimento mais pessoal.

Estou falando da percepção de que somos muito frágeis e fragmentados enquanto coletividade. Para mim, isso veio forte em 2014. Estava viajando pela Noruega, com minha filha Tainá. Tinha percebido que os serviços públicos realmente funcionavam, que as pessoas não precisam mostrar o ticket do metrô ou do ônibus ou que se você esquece algo de valor no banco de um jardim ou do metrô, a chance de reaver seu objeto é quase 100%.

Aí veio uma experiência que mudou minha vida. Era fevereiro, fomos em busca de “aurora boreal” em Tromsø, última cidade da Noruega antes do círculo polar Ártico. Quase no final da nossa viagem, pegamos um ônibus em uma estrada na costa do Mar do Norte em direção a Tromsø. Uns 5 km depois, o ônibus parou em frente a uma escola e cerca de 8 crianças, com idade entre 5 a 10 anos, entram no ônibus sozinhos, sem pais ou professores. Ao longo de mais ou menos 50 km, o motorista parava o ônibus em frente a casa das crianças, via que elas entravam em suas casas e seguia viagem. Foi um choque para mim: entendi que aquela sociedade desconhecia o medo das relações com o outro, seja por ameaça direta ou indireta, seja pelo risco de que o esperado de ser feito, não seja feito. No caso, se uma criança ficasse ao tempo, com temperatura média de -10ºC, no limite poderia correr risco de vida.

Não tinha como não pensar no Brasil, na nossa fragmentação, isolamento e medo que sentimos nas nossas relações sociais. E resolvi naquele momento a me aposentar o quanto antes para trabalhar para auxiliar nossa sociedade a mudar. Naquele momento não tinha a menor ideia do que faria.  Hoje, 8 anos depois, tenho convicção de que a saída é a participação social, com criação de associações da sociedade civil voltadas para problemas específicos.

Amanhã vamos iniciar o tema corrupção, enquanto problema de ação coletiva que infelizmente vem sendo trabalho como problema de agentes corruptos. Boa noite!!!

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