A construção social da desigualdade social

03/07

 Faltam 91 dias para 02/10. Muito grata à Tainá, minha filha, pelo texto de ontem. Muito elucidativo sobre como os efeitos da desigualdade de renda se espraiam para produzir desigualdades de acesso a direitos sociais que configuram, em si, violação a direitos humanos. Interessante é que a gente muitas vezes escuta que as pessoas têm diferentes capacidades intelectuais e isso acaba se revertendo em desigualdades naturais. Mas, quando temos certeza de que a desigualdade de oportunidade é tremenda e construída deliberadamente, aí a nossa condição de pensar se altera. Mas de onde vem essa história?

Na sexta-feira à tarde, eu estava ouvindo um vídeo de um jovem especialista em bolsa de valores. Eu estava inicialmente interessada em saber por que uma determinada ação estava caindo muito, mas depois fiquei realmente impressionada com as referências que o jovem estava utilizando e continuei a ver o vídeo até o final. Me permitam transcrever a parte que tem a ver com a nossa história aqui.

‘’Por isso quando um amigo mais à canhota te diz que ‘gente rica odeia pobre’.....cara, não faz sentido algum... Sem pobre não tem economia. É simples assim, não existe economia. Tá? Não existe nenhum jeito de a gente desenvolver a economia sem a população mais pobre. Não existe porque essas são as pessoas que são a base do consumo. Um cara que investe, que nem a gente faz aqui, um monte de dinheiro, a gente deixa o dinheiro parado. A gente deixa o dinheiro alocado. Então, a maior parte do nosso dinheiro não está no consumo. Já a maior parte do dinheiro do pobre ou da classe média está no consumo necessariamente...A maioria das pessoas vai lá passa um cartão de crédito, faz um carnê...a sua mãe fazia carnê? Ah.. mãe pobre faz carnê (rs)... a minha fazia...e aí pagava em 12 vezes (rs)...e quando atrasava um carnê, ela ficava numa preocupação e ia lá e pagava um tanto de juros” (...) (Segue o link apenas para comprovar que eu não acresci uma única palavra...https://www.youtube.com/watch?v=0X4mo6RgVJM). E esse jovem tem 500 mil inscritos em seu canal... o vídeo que eu estava vendo já tinha sido visto por mais de 70 mil pessoas.

Como é que a gente vai de verdade dialogar com o mercado, com a sociedade civil e com o governo para discutir desigualdade e projeto de país, sem construir um pacto para mudar esse tipo de olhar da economia?

Uma outra forma de ver essa pergunta que eu faço é pensar na afirmativa que o economista Eduardo Moreira faz no final desse vídeo: “Agora meu irmão, se tu acha que isso não é um inferno na terra, se tu acha que esse é o mundo justo para se viver, me perdoe, mas a gente é adversário.”

 https://www.youtube.com/watch?v=oxY6noFGttg

 

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