Valorização da Oposição
21/8
Faltam 42 dias para 2/10. E são 108 dias de reflexão para maior consciência e autonomia na hora do voto. Estamos analisando os candidatos vis-à-vis ao indicador “Compromisso com o Estado Democrático de Direito”. Hoje a análise é sobre as possibilidades dos candidatos em relação ao critério: “Valorização da oposição política e do seu direito de contestar as decisões tomadas pelo governo”.
No dia 12/5, o tema da nossa discussão era “o que é democracia?”. Naquele momento, o foco maior foi a relação sociedade e Estado e a compreensão do que era democracia representativa e democracia participativa. Ficou claro em ambos os tipos que do jogo político emerge os grupos vencedores, que se tornam a situação, e os derrotados emergem como oposição. Nesse sentido, podemos dizer que as oposições são elemento fundamental da democracia.
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Mas existem formas mais avançadas e menos virtuosas de acontecer a relação entre situação e oposição nas democracias? Acho que existem sim e acredito que, nas avançadas, prevalece especialmente: 1) disputas programáticas; 2) disputas ideológicas; 3) fiscalização e controle; e 4) capacidade de firmar consensos e participar em agendas políticas importantes.
Como acontece a relação entre governo e oposição aqui no Brasil? Na atualidade, de mal a pior. Hoje uma parcela significativa da população escuta a narrativa oficial de que os opositores do governo, mais fortes politicamente, são do demônio. Discurso típico do século XV para justificar atrocidades. Trazer Deus e o demônio para essa disputa não é política, é abuso da ingenuidade das pessoas. Ainda bem que uma parcela bem maior de brasileiros e brasileiras consegue defender um lugar mais lúcido para o pensamento no país, independentemente de política partidária.
Mas, sempre que vejo Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma falarem da relação entre governo e oposição em seus governos fico pensando que temos muito a caminhar. Parece-me que, mesmo para quem joga um jogo válido na política brasileira, algo saiu fora na disputa governo e oposição liderada ora pelo PT, ora pelo PSDB, com o suporte dos partidos das respectivas coalizões, balizados pela sempre onipresença do MDB/PMDB.
Assim, olhando para o comportamento dos partidos brasileiros, penso que, mesmo entre os candidatos que jogam o jogo tido como válido no Brasil, nenhum deles se distancia de uma média precária quanto à valorização da oposição sob o prisma do bom jogo da política. Por outro lado, as ameaças, o destempero e o fundamentalismo de Bolsonaro no trato com a oposição o colocam muito abaixo da média, na minha forma de pensar. Portanto, minha avaliação dos candidatos nesse critério é:
Lula (1)
Bolsonaro (0)
Ciro (1)
Simone Tebet (1)
Observação: penso que a oposição liderada pelo PSDB que levou ao impeachment da presidente Dilma tem um contexto muito próprio que merece reflexão à parte. Da mesma forma, as relações clientelistas/corruptas entre governos e parlamentares precisam ser pensadas à parte para não contaminar a discussão sobre as relações entre governos e oposições.