Por que corrupção não pode ser o critério decisivo no voto no Brasil
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Faltam 28 dias para 2/10 e são 122 dias de reflexão. Hoje pretendo defender que o critério de escolha não seja “se o candidato é ou não é corrupto”, mas se o candidato “entende o problema e se tem compromisso com a superação desse estágio perverso em que se encontra a nossa democracia.”
Já deixei claro que penso que o estágio da democracia brasileira é o de democracia eleitoral, caracterizada por corrupção sistêmica, em que os ganhadores do jogo político tratam o Estado como fonte de recursos para si e para seus apoiadores, por dentro ou por fora da lei. Os ganhadores do jogo político, por um determinado tempo, se tornam elite política, em posição de se beneficiarem do jogo, nem sempre ilegal, mas sempre ilegítimo. Não é um ou outro candidato, é o jogo. E se uma pessoa entra na disputa do jogo é porque já demonstrou que sabe suas regras e se compromete com elas. São as relações constituídas na interface entre burocracia, política e mercado, que possibilitam enriquecimento dos ocupantes de cargo burocráticos e políticos (ou de seus familiares), de parlamentares e de melhores condições de ampliação de rendimentos e lucros de certos setores da economia ou de empresas. Não necessariamente precisa haver propina ou crime.
Do que estou falando na prática? Vamos ao exemplo da vez. Na eleição passada, muita gente votou em Bolsonaro por conta da corrupção do PT, em especial, do que ficou evidenciado de esquemas de desvio de propina nos Correios e na Petrobras. Ao invés de aplicarmos pena aos infratores e enfrentarmos o problema que estava na origem da compra de voto dos parlamentares para votos nos projetos do Governo, criou-se, com auxílio da Justiça e da imprensa, uma demonização do partido que estava no poder. O que nós ganhamos? Um presidente que, ao ser indagado sobre a compra de imóveis em dinheiro por seus familiares, pergunta o que tem isso demais; um presidente que elege uma forma de “comprar votos” no congresso que tem potencial de desvio de recurso muito mais elevado do que o mensalão ou a lava-jato; e instituições fragilizadas que não conseguem fazer cumprir as leis.
Mensalão, estimativa de desvio 141 milhões (2003-2004); Lava-Jato, - estimativa de desvio de 10 bilhões (2004-2012); orçamento secreto 53,5 bilhões (2020 e 2022). No caso dos dois primeiros, o desvio era de pagamentos de propinas de fornecedores. No caso atual, é o dinheiro de orçamento que vem sendo utilizado como moeda de troca por votos. Vou pesquisar sobre o orçamento secreto para que possamos identificar mesmo, porque passamos de mal a pior.
Já foram analisados o debate e os programas de governo em relação ao problema da corrupção. Hoje pesquisei vídeos e li declarações dos candidatos. As narrativas que vi me levam a concluir que não há mesmo novidade e que não há compromisso com mudança. O único programa que trouxe novidade foi o do Ciro, mas as ideias são simplificadas pela retórica do candidato de que não é corrupto e que vai acabar com a impunidade da corrupção no Brasil, o que deixará a corrupção devidamente controlada. Assim, ele também demonstra que não entende o problema, o que o deixa sem possibilidade de fazer um compromisso para liderar um movimento pela mudança.
Nos resta então como sociedade civil nos informar para constranger os candidatos a apresentarem melhores reflexões sobre o problema e continuar a agir com força sobre o ganhador do jogo político.