Nunca andamos muito para frente, mas agora andamos muito para trás

8/9

 Faltam 24 dias para 2/10 e são 126 dias de reflexão. “Suco de Brasil,” foi assim que uma jovem, mais ou menos da idade da minha filha, se referiu ao filme “Marte um”. O filme foi feito por 4 jovens cineastas, na periferia de BH, e, para o nosso orgulho   está indicado pela Academia Brasileira de Cinema, para concorrer ao Oscar 2023, na categoria de Filme Internacional. No suco Brasil, um dos ingredientes mais fundamentais é a gigantesca desigualdade social, irmã siamesa da corrupção sistêmica que garante privilégios para alguns e pobreza para a imensa maioria da população.

 

E o filme tem muita razão. A situação é difícil há muito tempo. Ainda que, no governo atual tenha havido uma piora nos indicadores sociais, no geral, podemos dizer que, tal qual no problema da corrupção, temos andado de lado na desigualdade social. Na evolução histórica no Índice de Gini (um dos indicadores de desigualdade social), encontramos 0,623 em 1976 (IPEADATA) e 0,544 em 2021(IBGE).  Como esse indicador pode variar teoricamente de 0, quando não há desigualdade (as rendas de todos os indivíduos têm o mesmo valor), até 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula), vemos que a mudança foi extremamente pequena em 43 anos.  E o único período em que uma diminuição de desigualdade se mostrou mais durável/sustentável foi entre 2002 à 2015, quando sai de 0,589 e vai a 0,524. Crescimento da economia e política de aumento real do salário-mínimo durante os governos do PT respondem por esse resultado. Mas atentem, nunca saímos do rol dos mais desiguais do mundo.

 

E  partir de 2016,  ficamos ainda mais desiguais, pois a desigualdade voltou a crescer, atingindo 0,544, em 2021. Esse significa que o rendimento médio do 1% da população mais rica (2,1 milhões de pessoas) era 38,4 vezes maior que o rendimento médio dos 50% mais pobres (107,5 milhões de pessoas).

 

http://www.ipeadata.gov.br/ExibeSerie.aspx?serid=37818&module=M

 

https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2022/06/1percent-mais-rico-ganha-384-vezes-mais-renda-do-que-os-50percent-mais-pobres.ghtml

O Brasil se comprometeu com as metas para o 10º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Organizações das Nações Unidas e entramos em declínio em todas as metas firmadas. Na verdade, é pior do que isso: desde 2018, o Brasil não apresenta mais relatório voluntário sobre os ODS. Um conjunto de 57 entidades, entre organizações da sociedade civil e universidades brasileiras, vem produzindo o “Relatório Luz da Sociedade Civil sobre a Agenda 2030. Em 2021, o Brasil não teve nenhum progresso em nenhuma das 169 metas dos 17 ODS e é apresentado como um país em acelerado retrocesso.

 

https://brasilnaagenda2030.files.wordpress.com/2021/07/por_rl_2021_completo_vs_03_lowres.pdf

 

Em termos de desigualdade, retrocedemos 13 anos. E não é por outro motivo que volta crescimento da pobreza e a fome atinge milhões de pessoas novamente. Podemos concluir que é diante desse cenário é de se esperar que as propostas dos candidatos apresentem estratégia de curto e de médio prazo. Precisa haver medidas para fazer frente à urgência que permitiu o retorno da extrema pobreza ao Brasil; em segundo lugar, precisa haver um novo pacto social, tal como foi proposto para o enfrentamento da corrupção. Só que nesse caso, o objetivo é que concordemos em sermos mais iguais no acesso ao bem-comum.

 

Não vamos avançar em nossa democracia enquanto pensarmos que nós temos mais direitos do outros, que existe “gente do bem” e “gente do mal” ou brasileiros de primeira e de segunda classe. Desenvolvimento passa pela superação dessa chaga. A partir de amanhã, vamos ver como se apresentam os programas dos candidatos.

 

Boa noite!!

Anterior
Anterior

A desigualdade social nos programas de governo

Próximo
Próximo

Nossa comemoração de 200 anos foi sequestrada