Eficiência e efetividade no gasto

19/9/2022

Faltam 13 dias para 2/10 e são 135 dias de reflexão. Venho há mais de 6 anos trabalhando com sociedade civil, em busca de contribuir exatamente com a discussão do orçamento público. O objetivo é que possamos incidir sobre as decisões que dizem respeito ao uso do dinheiro público.

Tenho sido instrutora de cursos sobre leis orçamentárias (Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual) e tenho participado de todas as audiências públicas sobre esses temas em minha cidade, que são espaços de participação social garantidos pela Constituição Federal e pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Qual a conclusão a que chego? Sem desmerecer esses espaços e os seus resultados, creio que, para fazermos uma transformação verdadeira em nossa democracia, precisamos ir muito mais fundo na participação social.

Temos que conhecer como os nossos tributos têm sido utilizados e criar nova perspectiva em termos de consenso sobre o que pode e o que não pode. E eu não falo de desvio de recursos ou favorecimento de grupos de interesse. Isso a nossa legislação já alcança e, em tese, os órgãos de controle existem para coibir essas práticas. Essa discussão foi tratada quando falamos de corrupção.

O que eu estou falando aqui é que precisamos urgentemente discutir política fiscal e responsabilidade fiscal no âmbito da sociedade civil.  Essa discussão não pode ser feit apenas por economistas e governantes em torno de números. O que importa e muito à sociedade civil, é o que os números escondem, ou seja, o que se faz com os recursos públicos, ainda que dentro da lei.

Por exemplo, sobre o custo das elites que governam o país, lembrei-me de uma compra de carros pela presidência da República em 2019, primeiro ano do governo. Vocês se lembram?

https://autoesporte.globo.com/carros/noticia/2019/06/como-sao-os-29-carros-de-luxo-que-bolsonaro-encomendou-para-sua-familia-e-do-vice-mourao-17-deles-blindados.ghtml

Tem sentido termos esse tipo de despesa custeada com recurso público? Mesmo que estivesse previsto na Lei Orçamentária Anual de 2019, será que é justo e legítimo a sociedade custear 29 carros de luxo, em um total de R$ 7.142.500, para as famílias de um presidente e de um vice-presidente?  Penso que não.

Infelizmente, esses exemplos se multiplicam cotidianamente. Trata-se de gastos que são considerados “legais” pelos órgãos de controle, dado que não constam como ilícito no ordenamento jurídico, mas que penso ser, em essência, contra o interesse público e resultado de um déficit de consciência crítica da sociedade.  

Amanhã farei uma análise sobre o orçamento da União, para que possamos conhecer os grandes números. Estou muito interessada em conhecer esses dados, mas especialmente os números dos juros e amortização da dívida e o custo das elites políticas e burocráticas. A mim me parece que esses dois temas são extremamente relevantes para pensarmos grandes transformações. Ótima semana!

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