Defesa da democracia brasileira

15/5

Faltam 140 dias para 02/10. Minha reflexão de hoje vai para alguns desafios que enfrentamos para ampliar a defesa da democracia brasileira:

 1) A crise internacional da democracia ocidental, com problemas concretos e difíceis – crise de 2008, pandemia, guerras - facilita narrativas autoritárias de solução de problemas das sociedades (renda, acesso a serviços públicos de qualidade, segurança etc.);

2) A relativa fragilidade das instituições democráticas no Brasil traz um sentimento de insegurança em relação ao futuro, alimentando desconfiança e descrença na população para enxergar as possibilidades de construção coletiva de um projeto de país;

3) A crise da democracia no Brasil é debitada equivocadamente à corrupção, que é apresentada como um problema de pessoas e não dos sistemas político, burocrático e econômico. Isso esconde muito do problema e dificulta o estabelecimento de pactos de enfrentamento efetivo das regras do jogo perversas que favorecem privilégios dentro e fora da lei no país;

4) Elevado percentual de pessoas no Brasil abertas a regimes autoritários – já em 1996, apenas 8 anos após a promulgação da Constituição de 1988, uma pesquisa de Juan J. Linz e Alfred Stepan mostrou que, em seis democracias pós-autoritárias (Argentina, do Brasil, do Chile, do Uruguai, na América do Sul, e de Portugal e Espanha, na Europa), o Brasil apresentou o maior percentual (de 25,1 %) de entrevistados que consideravam que, em certas circunstâncias, um governo autoritário era preferível à democracia.


O que fazer? Primeiro, penso que devemos reconhecer os problemas concretos da democracia contemporânea e, em especial aceitarmos o fato de que a democracia brasileira é uma das muitas que ainda não se consolidaram. Segundo, penso que devemos nos dar ao trabalho de disputar uma narrativa de construção do futuro com cerca de 25% de brasileiros que ainda acreditam em governos autoritários, como demonstrou o estudo de Linz e Stepan. E terceiro, penso que temos de aceitar o fato de que a construção de uma democracia mais evoluída é problema de todos nós e não somente dos políticos.

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