Avaliação dos candidatos no quesito desigualdade social
12/9/2022
Faltam 20 dias para 2/10 e são 128 dias de reflexão. Ontem penso que demonstrei com os dados do Banco Mundial que o programa de governo de Bolsonaro mente ao dizer que a pobreza cresceu no Brasil de 2003 a 2016. É verdade que, de 2014 a 2016, anos de efeito da Lava-Jato, a pobreza já estava em elevação, mas, no todo, de 2003 a 2016 todos são unanimes em dizer que a pobreza e a extrema pobreza só decresceram.
E a fala de Ciro, de que o Brasil não cresce há 11 anos e que a desigualdade não foi realmente alterada? Sobre o crescimento ele costuma dizer que Bolsonaro responde pela tragédia dos últimos quase 4 anos, mas Lula (PT) responderia pelos outros 7. Sobre desigualdade ele argumenta que os 5 brasileiros mais ricos continuaram a ter mais patrimônio do que os 100 milhões mais pobres e de classe média na era Lula.[1]
Essas duas discussões são mesmo complexas. Ainda que, no computo geral, possamos dizer que o Brasil nunca tenha tido estabilidade de desenvolvimento econômico, é possível identificar em todos os números que houve crescimento de 2003 a 2010. Por exemplo, pelo gráfico de Stephen Kanitz[2], a evolução do PIB per capita, a valor constante (PPP). Ele mostra que, em 2002, o valor era 11.666; em 2010, aproximadamente 15.000. Isso significa quase 30% em 8 anos, em termos da capacidade de compra da renda percapita. Mas 2016 a 2022, o crescimento foi de 7% em 6 anos. Então, Ciro tem razão de que precisamos de um pacto para crescimento sustentável no Brasil. Quem sabe agora surge a oportunidade desse pacto, diante da catástrofe que se abateu sobre nosso país nos últimos 4 anos.
Na discussão sobre desigualdade, também temos complexidades. Se o Índice de Gini, que trabalha com a comparação entre os 20% mais pobres e os 20% mais ricos, segundo o Ipea[3], variou quase nada entre 1975 até os dias atuais, imagina a diferença entre o 1% dos mais ricos em relação aos 50% mais pobres. Claro que alterar essa desigualdade exige muito pacto com os que têm mais.
A leitura de um artigo escrito pela ex-Ministra Tereza Campello[4] nos auxilia a entender a necessidade de olhar mais complexo sobre indicadores para falarmos sobre desigualdade. Para ela, deve-se priorizar a concepção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas - agenda lançada em 2015 com 17 grandes temas e 169 metas, entre eles a erradicação da pobreza e da fome - e a recomendação de prestar menos atenção às médias, que não raro produzem ilusões estatísticas, e se concentrar no propósito de “não deixar ninguém para trás”. Na reportagem, fica claro que especialmente os pobres e os negros foram os que mais ampliaram acesso a renda e a serviços públicos. Assim, Ciro poderia ter outro discurso e ele auxiliaria na construção do Brasil que ele diz desejar.
Então, finalizando o tema da desigualdade, considerando programa de governo e discurso, temos as seguintes notas:
Lula – 2: programa e discursos guardam coerência, pode-se esperar um decréscimo gradual como ocorreu nos governos do PT. Também é possível uma aliança entre liberais e trabalhadores para trazer mais sustentabilidade para o crescimento econômico e com isso favorecer a diminuição horizontal da pobreza.
Ciro – 1: programa e discursos têm pontos de divergência, especialmente na forma populista de promessa de tributação de grandes fortunas. Tem uma crítica exagerada ao PT e não consegue sinalizar que pode ir junto na construção de um futuro melhor para todos.
Tebet – 1: programa e discurso atuais são coerentes e mostra capacidade de composição para auxiliar nas mudanças que seu programa de governo promete. Os votos enquanto senadora comprometem sua imagem de defensora de uma economia mais voltada para redução de desigualdades.
[1] https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2022/07/06/interna_politica,1378296/ciro-sobre-crise-no-pais-bolsonaro-e-culpado-dessa-tragedia.shtml
[2] https://blog.kanitz.com.br/brasil-40-anos-de-estagnacao/
[3] https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&id=2048:catid=28