Assassinato brutal: Bruno e Dom
16/6
Faltam 108 dias para 02/10. Minha reflexão hoje é sobre duas notícias que têm a ver com o nosso tema. A primeira, terrível, que está na imprensa do mundo, que é a confirmação do assassinato brutal do indigenista Bruno e do jornalista inglês, Dom. A outra é sobre a investigação do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos, da Polícia Civil de São Paulo, sobre o ex-contador de Lula, Muniz Leite, e sua mulher, por suspeita de lavagem de dinheiro do crime organizado, que já começou a ser utilizada eleitoralmente.
Há muito tempo li um livro sobre o Leonardo da Vinci. Lembro de um trecho que contava que ele levava aprendizes para igrejas para desenharem além da aparência dos padres da inquisição, mas a expressão demoníaca que estava por trás da aparência, o que se escondia trás das palavras e gestos. O convite hoje é mais ou menos nesse sentido, quanto ao pano de fundo dos acontecimentos da primeira notícia. Amanhã, vou refletir sobre a segunda notícia, sob a mesma perspectiva.
Desde o desaparecimento do Bruno e do DOM, acho que todos nós pensamos que provavelmente estariam mortos. Me chamou a atenção o que disse integrantes da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, mostrando que foram eles os primeiros a buscar os desaparecidos, no próprio dia 5, tendo o apoio de alguns policiais militares do 8º Batalhão em Tabatinga. Também foram eles que indicaram, posteriormente, às autoridades o perímetro a ser vasculhado (Folha de SP, 16/6, Marcelo Toledo).
Outro fato que chama a atenção são os inúmeros relatos nos jornais de que a região tem se caracterizado por ausência de fiscalização e de controle, o que resulta em toda a sorte de violência tais como desmatamento, atividades ilegais de pesca, caça, garimpo e narcotráfico. E aí temos que nos perguntar o que o Exército e a Polícia Federal têm feito para a segurança da Amazonia brasileira, pois se sabe de há muitos anos que a região incorpora conflitos de várias matizes que configuram questões de segurança nacional.
O que temos é que as forças armadas e a polícia federal chegaram tarde na investigação do crime e, infelizmente, não chegaram com anterioridade, e nem parece que vão chegar, para auxiliar a construir uma política de segurança pública na região.
Do ponto de vista político, temos que o próprio Presidente da República, dias atrás, fez declaração sobre a grande insegurança da região, mas não em tom de governante preocupado com um problema estrutural tão importante, mas, como todos sabem, criticando as vítimas por não terem cuidado da própria segurança. Ademais, só para lembrar, dia 26/10/2021, o presidente tinha visitado um garimpo ilegal em terras indígenas, em Roraima, segundo noticiado pela imprensa brasileira.
O que enxergamos por trás dos acontecimentos e das declarações? 1) Fragilidade estrutural e conjuntural de instituições democráticas; 2) Comportamento/posturas inadequadas de autoridades; 3) insuficiência de consciência política de parte significava da sociedade, com consequente fragilidade para ação coletiva. Muito desafiador: as instituições precisam funcionar, governantes precisam conhecer a liturgia do cargo e a sociedade precisa compreender que, se não se mexer, não haverá mudança nessa situação tão difícil do país!