Afinidade ideológica

26/8/2022

Faltam 39 dias para 2/10. E são 113 dias de reflexão. Hoje se inicia a discussão sobre o indicador “afinidade ideológica”.

Ao invés de iniciar pelos critérios elencados inicialmente para efeito de classificação, entendo que preciso falar de mim mesma. Mostrar de onde vim e do porquê a minha ideologia tende para um lado no espectro esquerda-direita. Isso é importante porque é preciso que, de largada, eu realmente admita que não estou com a razão ou certa. Porque não é disso que se trata quando qualquer um de nós emite a visão que temos de mundo. Ela vem de onde nós viemos, do que conseguimos pensar ou compreender sobre o mundo objetivo, criado por nós humanos.

Antes ainda, temos que eliminar mal-entendidos. Para isso, começo com uma frase que tem um intuito de dialogar com a demonização irracional sobre a esquerda que parcela da população brasileira adotou ao ser sido vítima de alguns grupos que ocupam posições de poder no Brasil. Contra a má-fé, contraponho a ciência e a reflexão. Vamos repassar o que é esquerda-direita, com uma olhada rápida no link a seguir?

https://www.youtube.com/watch?v=JF-UywwpQVA

“Se tem uma coisa que não tem posição política é a crueldade humana. A crueldade pode ser de direita ou de esquerda. A barbárie pode vir de esquerda ou da direita. Ela não tem posicionamento político. A questão é simplesmente um caso lógico.”

(Professor Alan Chedini)

Entendido isso, devo lhes contar que vim do espectro menos afortunado a que o professor se refere. Meus pais eram do povo, pequenos produtores rurais que moram em uma pequena fazenda no interior de Goiás. Cresci olhando para a diferença marcante entre eles e os que ocupavam posição de mais poder: o médico, as autoridades, o advogado, os ricos. Para mim, restavam duas alternativas: a submissão a esse contexto ou nadar contra com todas as minhas forças. De alguma forma, escolhi lutar contra e fui aprendendo utilizar meu poder pessoal para me posicionar no mundo. Mas eu nunca quis só passar para um lugar em que as pessoas não me olhassem de cima para baixo. Eu lutava contra todas as distinções que cristalizam desigualdades, potencializam relações de poder e de arbitrariedade.

Na assembleia nacional francesa (revolução francesa), eu certamente ficaria com o povo, e estaria no lado esquerdo do prédio, com os jacobinos. Eu nada teria a defender com os girondinos conservadores (grupo dos ricos e da alta burguesia). Então, entre os conservadores e os liberais, estou mais próxima dos liberais, portanto da esquerda.

Por último, vamos fazer um combinado de lealdade, né?  Não temos como tirar nossas lentes que nos formaram durante nossa construção social, de onde emergem as afinidades ideológicas que temos uns com os outros. Penso que esse aprendizado pode nos proteger de brigas sem sentido, nos trazer um pouco mais de humildade para olharmos o outro e a nós mesmos.

Ao mesmo tempo, penso que nos serve para cuidar de distinguir o que vale e o que não vale. Penso que crueldade, barbárie e autoritarismo não valem.

Anterior
Anterior

Afinidades em valores e crenças

Próximo
Próximo

O atual presidente ganha zero